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sexta-feira, agosto 12, 2022

ENSINAR É UM EXERCÍCIO DE IMORTALIDADE

Hoje completo exatos 20 anos de exercício como professora na rede municipal de educação de São Paulo.  Além da breja comemorativa gostaria de receber meu 4º quinquênio e minha sexta parte, porém retiraram da contagem oficial o tempo em que trabalhamos no período da pandemia. Correto. SQN. Estaria há 5 anos da aposentadoria, mas recentemente mexeram nas regras de jogo e a brincadeira vai durar mais uma década. Coletivamente estamos na batalha pra evitar a privatização do serviço público e acompanhando a votação do projeto de lei que fode a carreira dos funcionários. Por todo esse tempo me chamaram de vagabunda. Correto. SQN. 

Achei nos perdidos e achados um e-mail enviado na época do ingresso agradecendo o incentivo de uma pá de gente: da família a colegas de faculdade e trabalho passando pelos amigos da República Baviera em Ouro Preto. Agradeço novamente hoje aqueles que passaram, os que estão e os que ainda virão para me acompanhar na jornada.

Breve histórico afetivo das escolas pelas quais passei:

*EMEI MANOEL PRETO: em regime de urgência assumi uma escola na passagem pela marginal porque minha alma ainda não estava pronta para sair da Creche Central da USP. Em 5 meses de aula gastei minhas 10 faltas abonadas e mais algumas justificadas. Ao me tornar professora efetiva responsável por uma sala de aula expulsei uma professora contratada do lugar cômodo da qual ela não esperava ter que sair em pleno agosto letivo. Além de amaldiçoar minhas 3 gerações ascendentes e descendentes ela não me deu a chave do armário pra que eu pudesse utilizar o material pedagógico. Criei o hábito de usar o carro como porta-treco e uma mochila de carrinho. 

*EMEI EDALZIR SAMPAIO LIPORONI: Descrevi meu amor por essa escola na "Portelinha" em uma postagem ontem. A mala de rodinha seguiu comigo. Enquanto a escola "de lata" começou a ser transformada em escola de tijolo, ficamos alojados dentro da Funerária Municipal. Ratazanas saíam do armário, alagamentos eram constantes. E quando finalmente a escola ficou pronta parece que algo quebrou dentro de mim. Dentro do "normal" eu não consegui trabalhar bem. Achei melhor sair.  O famoso ciclo dos 7 anos...

*EMEI LOURENÇO FILHO: a primeira vez que trabalhei nessa escola peguei uma vaga que estava "guardada" pra alguém. Foi ódio à primeira vista. Me senti super acolhida por todos. SQN. Ainda bem que tive um recomeço e o ranço virou afeto. Trago bons amigos comigo até hoje (alunos e funcionários). Trabalhávamos em duplas de professoras, portanto a turma de crianças não era minha, era "nossa". Aprender a compartilhar decisões e alunos foi meu maior e melhor aprendizado nesse cantinho educacional. 

*EMEF DOM PEDRO I: ao assumir de maneira concomitante aulas em escola pública estadual percebi que meu tempo de educação infantil já tinha sido suficiente. Passei então pro ensino fundamental. Imagina uma escola ativa, gigante, colorida, alegre... Aí eu, muito besta, pedi remoção, rindo na cara do perigo achando que não conseguiria. Pois tive que sair. Chorei de maneira compulsiva ao ver meu nome na lista do diário oficial. Se arrependimento matasse eu estava esticadinha no solo. Um dia quem sabe eu  volto... 

*EMEF PROFª HELENA LOMBARDI BRAGA: estou. Apenas estou. Um dia de cada vez. A soma dos dias. Alternando as alegrias dos pequenos sucessos com a angústia das grandes engolidas de sapo. 

"Devagarinho, de manhãzinha
Eu vou
Enchendo-me de alegria
Como a flor que recupera sua cor
Aos pouquinhos
Com a chegada dum novo dia."

Só peço que sobre alguma sanidade mental para os anos vindouros. 

Evoé!