NO CÔNCAVO DAS MÃOS RECOLHE QUANTO DE ÁGUA LÁ CABIA
Geralmente me estapeio com os alunos pra ver quem pega o melhor livro na biblioteca. Ainda bem que tem gosto pra tudo, e na escolha pelo exemplar a ser lido nas férias (no meu caso deitada na rede) só eu escolhi A maior flor do mundo de José Saramago. Já devorei muitos livros dele, mas não conhecia nenhuma literatura infantil. Pelo jeito nem ele mesmo, pois na primeira página lemos:
"As histórias para crianças devem ser escritas com palavras muito simples, porque as crianças, sendo pequenas, sabem poucas palavras e não gostam de usá-las complicadas. Quem me dera saber escrever essas histórias, mas nunca fui capaz de aprender, e tenho pena. Além de ser preciso saber escolher as palavras, faz falta um certo jeito de contar, uma maneira muito certa e muito explicada, uma paciência muito grande - e a mim falta-me pelo menos a paciência, do que peço desculpa."
E conta a narrativa sobre o menino que "saíra da aldeia para ir fazer uma coisa que era muito maior do que o seu tamanho e do que todos os tamanhos". Apesar da inicial justificativa que não saberá usar bem as palavras aparecem no texto coisas como: "... naquela vagorasa brincadeira que o tempo alto, largo e profundo da infância a todos nós permitiu...", ou ainda, "ao redor do silêncio que zumbia, e também um calor vegetal, um cheiro de caule sangrado de fresco como uma veia branca e verde". Pergunto-me então: se soubesse usá-las como seria?
No fim surge um convite, um desafio:
"As histórias para crianças devem ser escritas com palavras muito simples, porque as crianças, sendo pequenas, sabem poucas palavras e não gostam de usá-las complicadas. Quem me dera saber escrever essas histórias, mas nunca fui capaz de aprender, e tenho pena. Além de ser preciso saber escolher as palavras, faz falta um certo jeito de contar, uma maneira muito certa e muito explicada, uma paciência muito grande - e a mim falta-me pelo menos a paciência, do que peço desculpa."
E conta a narrativa sobre o menino que "saíra da aldeia para ir fazer uma coisa que era muito maior do que o seu tamanho e do que todos os tamanhos". Apesar da inicial justificativa que não saberá usar bem as palavras aparecem no texto coisas como: "... naquela vagorasa brincadeira que o tempo alto, largo e profundo da infância a todos nós permitiu...", ou ainda, "ao redor do silêncio que zumbia, e também um calor vegetal, um cheiro de caule sangrado de fresco como uma veia branca e verde". Pergunto-me então: se soubesse usá-las como seria?
No fim surge um convite, um desafio:
"Este era o conto que eu queria contar. Tenho muita pena de não saber escrever histórias para crianças. Mas ao menos ficaram sabendo como a história seria, e poderão contá-la doutra maneira, com palavras mais simples do que as minhas, e talvez mais tarde venham a saber escrever histórias para as crianças... Quem sabe se um dia virei a ler outra vez esta história, escrita por ti que me lês, mas muito mais bonita?..."
Certamente a primeira produção de texto que pedirei às crianças na volta às aulas não será MINHAS FÉRIAS!
2 Comments:
At 4:54 PM, Craudio said…
Coloca eles pra refazer um episódio do Carequinha tb!
Essas ilustrações são muito locas...
At 9:55 AM, Taís said…
comprei esse livro há muitos anos, qdo ele foi lançado. levei pra caixa da sala e sabe que ele sumiu? sumiu só agora, pq durante o semestre me lembro q ele ainda estava lá.
não gostei qdo li. acho q ele merece uma segunda leitura. tomara que ele reapareça, rs!
beijo
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