evão do caminhão

nos momentos cruciais... estacione seus neurônios e acelere seus hormônios

terça-feira, julho 20, 2004

AMIGOS VÃO E VEM... INIMIGOS SE ACUMULAM!

EM DEFESA DOS VILÕES

Nessa época em que tudo tem de ser politicamente correto e já não se pode falar mal de ninguém, nem quando se diz a verdade, precisamos rever uma série de idéias fixas sobre uma minoria que vem sendo perseguida há séculos: a dos vilões do cinema e da literatura. Do jeito que eles são tratados, somos levados a acreditar que não passam de um bando de velhacos, traiçoeiros, sem caráter, sempre prontos a um golpe baixo, e munidos de uma alma malévola como um beque uruguaio ou um oficial da SS. Pois bem: está na hora de dar um basta a essa injustiça. Vamos supor que eles também tenham suas virtudes.

O Capitão Gancho, por exemplo - você sabe, o inimigo do Peter Pan. No famoso desenho animado de Walt Disney, ele é mostrado cravando entre os dentes uma piteira com duas saídas, fumando dois cigarros ao mesmo tempo. Certamente, isso é para caracterizá-lo como vilão, já que os heróis, como se sabe, não fumam. Olha já aí o preconceito. Pois quem pode garantir que Peter Pan, depois de adulto, também não se tornasse fumante de quatro maços diários? E, se é preciso ser politicamente correto, é bom não esquecer que o capitão gancho era um deficiente físico. Sua mão direita foi mordida, mastigada e engolida por um crocodilo, o que o levou a implantar aquele gancho. Tente cortar as unhas, bater palmas ou tocar castanholas com um gancho no lugar da mão, para ver o que é bom. Donde, ao contrário de inspirar repulsa, o Capitão Gancho deveria despertar compaixão.

A Bruxa da história de Branca de Neve é outra que vem sendo discriminada há séculos como vilã. Mas ela não nasceu bruxa, e muito menios com aquele nariz. Na verdade, era uma gloriosa rainha ? e, olhe, um pedaço de morena. Se tudo continuasse a correr como o figurino, a Rainha ainda poderia reinar por muitos anos, sem perder um pingo sua majestade. E foi então que o Espelho Mágico lhe fez aquela falseta. Numa de suas consultas de rotina ao espelho, a rainha ficou sabendo que já não era a a muher mais bonita de seu próprio reino. E que esta era agora sua enteada, Branca de Neve ? e uma órfã que ela acolhera e a quem dera casa, comida e roupa lavada. Com que direito a insípida Branca de Neve se atrevia a ser mais bonita do que ela?

Ora, qualquer comparação menos perfunctória entre as duas mostra que o espelho errou feio. A Rainha deixava Branca de Neve no chinelo em todos os quesitos: tinha os traços perfeitos, muito mais personalidade e , vamos e venhamos, era uma mulher, meio vamp, meio fatal. Quanto a Branca de Neve, era apenas uma criança e, cá entre nós, havia melhores na praça. Entre outras coisas, não tinha nariz. Além de ser meio burra, medrosa e ter uma voz francamente enjoativa. A única explicação para a súbita predileção do espelho por ela seria, talvez, uma vontade de adular a juventude. Ou então, ele tomou-se de uma gratuita antipatia pela rainha. Seja como for, esta não merecia o julgamento de um espelho parcial, míope e, quem sabe, pedófilo.

O que a Rainha fez depois ? sacrificar sua enorme beleza transformando-se numa bruxa para vingar-se da menina com a maçã envenenada ? foi apenas uma reação humana. Maçã envenenada que, aliás, não se destinava a matar Branca, mas apenas a adormecê-la. Apesar disso, a história reservou um terrível fim para a rainha. Ela é que foi punida com a morte, fulminada por um raio e soterrada por uma avalanche. E , assim, branca de neve viu o caminho livre para casar-se com um príncipe surgido do nada, e os dois foram viver juntos no Castelo da rainha e passaram a extorquir os diamantes da mina dos Sete Anões.

Um dia, espero continuar essa defesa dos vilões incompreendidos, revelando as qualidades de Drácula, Frankenstein, King Kong, Godzilla, o Fantasma da òpera, o Lobo Mau... e quem sabe até o lendário tarado carioca dos anos 30, Febrônio Índio do Brasil... ou ainda Bin Laden... Que timaço!!! No futuro, a história os absolverá.

Adaptação da crônica de Ruy Castro, na tentativa de entender o mundo e de animar essas férias com um texto lúdico...