evão do caminhão

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quarta-feira, agosto 31, 2005

DUAS COISAS NA VIDA NÃO SÃO DIGNAS DE CONFIANÇA: OS PRAZERES DA CARNE E OS PRAZERES DA LITERATURA

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Acabei de ler Marquês de Sade. Na verdade queria ter lido Justine, Juliette ou Os 120 dias de Sodomia, mas num encontrei. Li Os crimes do amor, onde ele escreve "não existe amor que resista aos efeitos de uma sã reflexão", conta sobre "o desejo insaciável de destruição" e afirma "o amor, assim como a religião são fraquezas humanas", "não há nada de bom no amor a não ser o físico" e assim, através de pequenas novelas ele vai descrevendo como os Homens podem ser filhos da puta, covardes, inconseqüentes. E o que suas ações geram... geralmente uma desgraça. Ele escreveu em 1800, mas me pareceu tudo tão atual.
Voltando um pouco... quando entrei na livraria tava procurando na verdade algo da Isabel Allende pra ler. Mas os últimos dela estão péssimos, nem parecem que ela escreveu... perdeu a mão. Queria encontrar AFRODITE, mas tá difícil.

Não que eu vá pra cozinha depois de lê-lo, mas idéias poderão surgir...

Tudo começou com a maçã dada por Eva a Adão -ou seja, desde o princípio o alimento parece estar ligado ao sexo. Daí às beberagens e filtros do amor, aos vegetais de sabor e formato sugestivos, às especiarias orientais e à carne crua de certos moluscos que evocam a carne ela mesma, está tudo lá, no novo livro de Isabel Allende, Afrodite.
Para justificar a obra, um divertido tratado sobre os afrodisíacos, a chilena usa o pretexto dos calores surgidos com a idade: já no prólogo, diz que, embora o cinquentenário seja como "a última hora da tarde", em lugar de tê-la levado à reflexão, instiga-a ao pecado.

O livro é, portanto, todo luxúria. Foi concebido quando, após passar três anos chorando a morte de sua filha Paula -sobre a qual se detém no livro homônimo publicado em 95-, Isabel Allende começou a ter estranhos sonhos eróticos relacionados à comida.

No primeiro deles, sonhava que mergulhava em uma piscina cheia de arroz-doce; uma semana depois, sonhou que colocava o ator espanhol Antonio Banderas nu sobre uma "tortilla" mexicana, com abacate e molho picante por cima, como um "burrito" humano.
A escritora também admite ter se apoderado de informações de meia centena de autores, cujos textos consultou, e que não cita pelo tédio de elaborar uma bibliografia. Explica: "Copiar de um autor é plágio, copiar de muitos é pesquisa". kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Pode não parecer 100% honesto para alguns puristas da academia, mas o resultado obtido faz valer a pena a apropriação. Ela construiu um painel extremamente gracioso do erotismo no decorrer dos séculos, pincelado, aqui e ali, por histórias reais de amigos (exageradas à sua maneira) e frases lapidares.

Algumas delas: "Um homem que cozinha é sexy, a mulher não". Ou: "Erótico é usar uma pena; pornográfico é usar a galinha". E ainda, quando fala do conforto dos velhos amantes, comparados por ela a confortáveis sapatos de andar pela casa: "Em minha idade provecta descobri o prazer de estar casada com as pantufas". É uma frase que diz muito sobre o livro. Mais do que escrever para amantes jovens, recém-iniciados, que já possuem "o único afrodisíaco verdadeiramente infalível" (a paixão), Allende quer demonstrar o poder que as pequenas surpresas e agrados cotidianos têm na difícil tarefa de renovar o ardor amoroso.

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