TUDO EM TI ERA UMA AUSÊNCIA QUE SE DEMORAVA: UMA DESPEDIDA PRONTA A CUMPRIR-SE.
Ontem foi aniversário de 87 anos de vida da minha vó. E hoje é o velório do vô do Japito.
Dois iguais diferentes ou dois diferentes iguais?
- uma ‘nona’ e um ‘ditian’.
- os dois vaidosos, sempre com os cabelos impecavelmente arrumados.
- uma com enormes olhos azuis que dizemos ser de coruja, pois enxergam melhor que muito jovem; o outro com olhinhos pequenos, mas que não deixavam de enxergar tudo ao seu redor com total sabedoria e crítica.
- poderiam ser amigos se um não gostasse tanto do silêncio da pescaria e a outra de falar alto e pelos cotovelos.
- enquanto uma é corinthiana roxa e alucinada; o outro ficava roxo de raiva de ver a camisa alvinegra.
- os dois poderiam observar o mundo ser destruído diante da tela da TV.
- um desistiu da vida depois que perdeu sua filha caçula e não viu mais motivos para celebrar muitas coisas e a outra lutou contra o recente derrame e comemorou a vida com um ar de saudosismo, relembrando sua infância e os seus que já partiram.
Ambos ensinaram o valor do trabalho aos seus descendentes. Afinal por que um imigrante japonês e uma imigrante italiana construiriam aqui suas famílias? Não foi pelo trabalho que tudo começou?
Agora cá estou eu, afundada em trabalho. Diretamente responsável por duas formaturas. Dividida igualmente entre celebração e despedida. Não consegui comprar o presente da nona, não conseguirei ir ao enterro do ditian. O que sei é que eles não saíram da minha cabeça esses dias.
E se vou colocar como prioridade o meu trabalho é porque seguirei o exemplo dos dois. Vou pegar na enxada como a vó na plantação de algodão até criar bolhas nas mãos e vou rezar pra tudo fique bem com as mãos bem juntinhas como aprendi com o ditian na despedida da Teredinha.
O final, nesses dias em que me faltam palavras, pra variar, fica com o Rubem Alves:
“Meus sentimentos mudaram. A morte não mais me causa medo. O que ela me dá é uma imensa tristeza. Muitos, muitos anos atrás, quando minha filha Raquel não tinha mais que três anos – eu ainda estava dormindo-, ela me acordou com uma pergunta que eu nunca ouvira, uma pergunta de tal densidade poético-metafísca que tive a impressão de estar ouvindo uma voz vinda de séculos de sabedoria e não de uma menininha que começava a viver: ‘Papai, quando você morrer você vai sentir saudades?’ Ante o meu espanto sem palavras, ela acrescentou: ‘Mas não chore não. Eu vou te abraçar...” Ela entendera que a dor da morte não é a dor do medo. É a dor da saudade.”
E o vídeo da véia vó cantando, desejando que um dia os dois se encontrem no céu e possam conversar sentados num coreto qualquer...
Dois iguais diferentes ou dois diferentes iguais?
- uma ‘nona’ e um ‘ditian’.
- os dois vaidosos, sempre com os cabelos impecavelmente arrumados.
- uma com enormes olhos azuis que dizemos ser de coruja, pois enxergam melhor que muito jovem; o outro com olhinhos pequenos, mas que não deixavam de enxergar tudo ao seu redor com total sabedoria e crítica.
- poderiam ser amigos se um não gostasse tanto do silêncio da pescaria e a outra de falar alto e pelos cotovelos.
- enquanto uma é corinthiana roxa e alucinada; o outro ficava roxo de raiva de ver a camisa alvinegra.
- os dois poderiam observar o mundo ser destruído diante da tela da TV.
- um desistiu da vida depois que perdeu sua filha caçula e não viu mais motivos para celebrar muitas coisas e a outra lutou contra o recente derrame e comemorou a vida com um ar de saudosismo, relembrando sua infância e os seus que já partiram.
Ambos ensinaram o valor do trabalho aos seus descendentes. Afinal por que um imigrante japonês e uma imigrante italiana construiriam aqui suas famílias? Não foi pelo trabalho que tudo começou?
Agora cá estou eu, afundada em trabalho. Diretamente responsável por duas formaturas. Dividida igualmente entre celebração e despedida. Não consegui comprar o presente da nona, não conseguirei ir ao enterro do ditian. O que sei é que eles não saíram da minha cabeça esses dias.
E se vou colocar como prioridade o meu trabalho é porque seguirei o exemplo dos dois. Vou pegar na enxada como a vó na plantação de algodão até criar bolhas nas mãos e vou rezar pra tudo fique bem com as mãos bem juntinhas como aprendi com o ditian na despedida da Teredinha.
O final, nesses dias em que me faltam palavras, pra variar, fica com o Rubem Alves:
“Meus sentimentos mudaram. A morte não mais me causa medo. O que ela me dá é uma imensa tristeza. Muitos, muitos anos atrás, quando minha filha Raquel não tinha mais que três anos – eu ainda estava dormindo-, ela me acordou com uma pergunta que eu nunca ouvira, uma pergunta de tal densidade poético-metafísca que tive a impressão de estar ouvindo uma voz vinda de séculos de sabedoria e não de uma menininha que começava a viver: ‘Papai, quando você morrer você vai sentir saudades?’ Ante o meu espanto sem palavras, ela acrescentou: ‘Mas não chore não. Eu vou te abraçar...” Ela entendera que a dor da morte não é a dor do medo. É a dor da saudade.”
E o vídeo da véia vó cantando, desejando que um dia os dois se encontrem no céu e possam conversar sentados num coreto qualquer...
Marcadores: família
1 Comments:
At 10:12 AM, Craudio said…
Todo mundo gostou da cartinha! A batian, inclusive, quase teve um infarto.
Amo tu!
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